terça-feira, 5 de janeiro de 2010

S. Jorge - Caldeira S. Cristo

30 - Dez - 09





Caldeira do Santo Cristo – Fajã dos Cubres
Ilha: São Jorge
Dificuldade: Fácil
Extensão: 10 Km
Tempo: 1h 45m





A Caldeira de S. Cristo, posicionada entre a fajã dos Tijolos e a fajã Redonda, quiçá o lugar mais emblemático da ilha, muito porque os difíceis acessos à pequena aldeia desincentivam a maioria da população sedentária, o que a torna algo misteriosa e, por outro lado, mais atractiva para os turistas dinâmicos e que procuram mais emoções associadas à prática regular de exercício físico.


Para alcançar o célebre e proibido prato de amêijoas da fajã, podem ser traçadas duas rotas distintas, mediante os caprichos dos aventureiros. A mais fácil é seguir de carro até à Fajã dos Cubres, estacionar junto às águas cristalinas do Atlântico e seguir viagem por um caminhos, com pouco mais de um metro e meio de largura, até à pequena aldeia. Os meios de transporte que os residentes da caldeira utilizam são motociclos de quatro rodas, porque estão dimensionados para a largura do caminho. O outro acesso, pelo carreiro pedestrianista, marcado ao logo de toda a descida que serpenteia algumas linhas de água, onde cintilam gomos do líquido das chuvas nas rochas vulcânicas, “ataca-se” pelo cume da planalto jorgense com início na estrada regional que une a vila da Calheta ao Topo.


Este passeio agradável, ainda permite a memorização de inúmeras fotos das verdejantes paisagens, durante aproximadamente uma hora, por ambos os acessos, até à aldeia construída nas margens da Caldeira de S. Cristo.


A placa de madeira que identifica e inicia o trilho da “caldeira de S. Cristo”, junto à estrada regional para o Topo, marca aproximadamente quatro quilómetros. Pouco mais de uma centena de metros, avista-se todo o vale curvilíneo e verdejante, utilizado pelos ancestrais povoadores, para conseguir alcançar a caldeira, outrora isolada do resto da ilha. Ao fundo o contraste entre o verde garrido da vegetação virgem, o azul marinho das águas cristalina do mar e, por vezes, o branco da espuma fofa produzida pelas ondulação no insistente bater das águas nas rochas pouco profundas, marcam uma vista de referência que enche a pupila de qualquer turista. Na descida ouve-se a água a jorrar nas rochas e nas pequenas cascatas da linha de água que é escondida por manto verdejante de selvagens arbustos predominantes nas encostas da ilha. De campo a campo encontram-se várias vacas que vivem uma vida em terras com sumptuosas paisagens e frescas verduras que alimentam o corpo bovino com comida natural e biológica. Na descensção quando o olhar roda para o percurso que vai ficando para trás, ficamos admirados com o desnível já percorrido, medido pelo crescer das montanhas do planalto desta esfinge do mar.



A proximidade ao mar é um forte indício de que a aldeia se aproxima. As primeiras casas vislumbram-se ao longe, agora, por entre as gotas da chuva forte que assola a costa norte tocada a vento frontal. A torre da igreja, terá sido benzida a 10 de Novembro de 1835, hoje aparentemente sem pastor, talvez porque as “ovelhas” são poucas, continua destacar-se no horizonte de qualquer um dos caminhos que dá acesso à caldeira. Um pequeno lago, a leste da aldeia, pode ser contornado pelo molhe de pedras construído para evitar os avanços constantes do mar, o que não evita o salpico das pequenas particular salgadas, rasgadas pelas pedras vulcânicas que travam as ondas atrevidas. Os pequenos carreiros que circundam as casas da aldeia transpiram de muito abandono e isolamento, fruto dos difíceis e limitados acessos à civilização insular. Porém as paupérrimas famílias resistentes esforçam-se por contornar o isolamento, ou por outro lado, aproveitam por viver, talvez na aldeia mais sossegada das esfinges do atlântico médio. Pois, isolamento, por estes lados, não significada impossibilidade de acompanhar alguns bons exemplos da sociedade evoluída e moderna.
Cinco baldes verdes, de meio metro de altura, permitem separar os resíduos produzidos pelos residentes ou pelos turistas “verdes”. Porém resta saber se a política dos três “rrr” é respeitada nestas bandas.

A Caldeira é o monumento natural mais apreciado e “vendido” nas revistas turísticas da região, no entanto, para outros, está envolvida num enorme fascínio irresistível para a prática de mergulho, como foi um local, e jorgense encontrado, na tarde do dia trinta, do último mês do ano de 2009, d.C. a flutuar com um fato de mergulho, óculos e tubo respirador no leito das águas da caldeira.

No estreito caminho em direcção à Fajã dos Cubres, fui ultrapassado por uma verde moto quatro e dois passageiros. A meio da viagem, um humilde jorgense, a contrato, escavava a estreita estrada para limpar as inúmeras e pouco profundas valetas que ajudam a escoar a água permitindo a conservação e a transitabilidade motora entre as fajãs. No prólogo da chegada à Fajã dos Cubres, no topo da rampa final para os veículos automóveis pesados, algumas centenas de quilos em materiais de construção, digo, telhas, blocos, entre outros, aguardam em fila a sua vez para serem transportados, nos pequenos atrelados das motas, até uma das duas casas em (re)construção no “Santo Cristo”.

Já no centro da aldeia dos Cubres, o único café estrategicamente implantado na beira da estrada principal, e única, e em frente à igreja cuja santa é uma imitação da existente no santuário de Lurdes – França, está aberto para receber qualquer “local” ou turista curioso.
Saciada a mente com as vistas que foram entranhadas nas duas “meninas-dos-olhos” e com a ligeira dureza e extensão do percurso restou regressar à civilização jorgense para desfrutar da gastronomia.