quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pico - 1ª Tentativa

31-Dez-09

Na manhã seguinte, enquanto o “triângulo das ilhas” flutuava a cortar as poucas ondas do canal, em direcção à vila de Velas, foi possível vislumbrar a sudoeste a enorme montanha da ilha do Pico coberta de neve até meia encosta. A primeira sensação foi de que estava a perder a melhor oportunidade em poder, mais uma vez, alcançar o ponto mais alto de Portugal, mas agora com neve.

Chegado à Madalena, no auge da hora do almoço com num cenário transparente, e a montanha branca a Sul a chamar o viajante, incentivou a uma investida imediata, mesmo sabendo que as piores previsões meteorológicas previam a aproximação de alguma intempérie com chuva e o vento a rodar para oeste, no final do dia e noite.
Na casa montanha, a mil e duzentos e quarenta metros de altitude o cenário mantinha-se, com vento muito fraco e total visibilidade que permitia ver todo o manto de neve da montanha vulcânica que está assente numa “base” com quase 5.000 m de altura, desde as profundezas do Atlântico.

Este cenário apelou a uma rápida troca de roupa, inserir na mochila o mínimo de material para agasalho do frio e da chuva e alguns reabastecimentos líquidos e sólidos para algum panorama menos bom. Pé ante pé, por entre o trilho já conhecido de outras vezes, foi possível fazer, em quinze minutos, percurso até à chegada ao primeiro ponto de referência, a furna. Neste ponto, já visível várias calotes de gelo, escondidas dos raios do sol, nos baixos declives das gretas construídos pela erosão.

Rumo ao topo, ainda junto à furna, o caminho curva noventa graus para sudoeste. Nesta viragem sentiu-se o crescer do vento, apesar de ainda soprar com baixa intensidade. No trilho e nas partes mais baixas tudo estava repleto com neve que ia crescendo para as laterais na medida em que se ia progredido em altitude. Também o vento e o nevoeiro acompanhavam este cenário que se tornava cada vez mais idílio e branco.

Já no segundo ponto de referência, num dos poucos marcos brancos que restam com um pequeno reflector, significa que o caminho roda, desta vez, noventa graus para Sul e começa o verdadeiro desafio com uma inclinação acentuada. Da casa montanha foram percorridos apenas mil metros dos três mil e quinhentos totais até ao topo, agora em trinta minutos.



Nesta fase, o vento soprava com rajadas geladas e fortes e o nevoeiro escondeu a vislumbrante vista sobre a furna, a vila da Madalena e a ilha da Horta.
Consciente de que a previsão meteorológica previa o crescer do mau tempo, para o final do dia e noite, restava apenas subir mais uns “degraus” para apreciar a neve envolvente.

Dez minutos depois, um pequeno deslizar na neve que escondia as rochas vulcânicas, ditou a linha final do percurso que se tornou extremamente perigoso por cada metro de desnível conquistado.
Um aventureiro audaz conciente das sua limitações nunca desiste de alcançar os objectivos que julga capaz.