quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Pico - 2ª tentaiva

01-Jan-10

Pico – a montanha
Percurso pedestre não marcado: casa montanha – piquinho – casa montanha
Ilha: Pico
Dificuldade: difícil
Extensão: 7 Km
Desnível: 1110 m
Tempo: 3h00m

No primeiro dia do ano, às oito horas da manhã, o cenário encorajou e atiçou novamente de adrenalina o corpo do viajante, pois a mente já consciente e preparada para as dificuldades com suor e dor, para a viagem até ao ponto mais alto de Portugal.

Já equipado antes da chegada à casa montanha, pelas nove horas, o cenário envolvente não foi muito animador, porque um manto de nevoeiro e vento moderado eram mau presságio. No entanto, lá foram as pernas da mente teimosa tentar alcançar o desafio. O caminho repetiu-se, mas desta vez, com chuva desde o início e nevoeiro.

As fortes chuvas da noite anterior subtraíram centenas de metros de neve à montanha.
O que no dia anterior era visível junto à furna, neste dia, só foi possível verificar, vinte e cinco minutos mais à frente, quiçá meio quilometro acima, já percorrido um tempo total de trinta e nove minutos.


Na subida, a chuva fustigou com mais força duas ou três vezes o viajante, psicologicamente resistente a qualquer intempérie possível. Mas a precaução ditava que fosse necessário ir olhando para “baixo” de forma a acompanhar a evolução do nevoeiro e do vento”. Já com uma hora de viagem, a neve tinha estendido o seu manto e, já com o gelo, este prega inúmeras partidas às botas do viajante, quando não consegue quebra-lo para encontrar um ponto estável. Para evitar trambolhões destemidos, socorre-se do bastão com mais frequência à medida que progride no caminho do sopé da montanha. Catorze minutos depois o desnível da inclinação diminui, já próximo dos dois mil e cem metros, as marcas do caminho viram um pouco para a direita e dão “sinal” de que a cratera está próxima.

Mas nem tudo é perfeito.

Com redução do desnível da subida, a paisagem torna-se totalmente branca, muito lisa mas também excessivamente perigosa. As botas deixaram de conseguir estalar a neve que se transformou em gelo com espessura grossa, muito por força das fortes chuvadas caídas da noite anterior e, o bastão, também por vezes, tornou-se impotente para perfurar o manto gelado da montanha.

Sem grampos nas botas, com uma hora e quinze minutos de viagem, restou abortar a curta subida que restava até ao perímetro da enorme cratera da montanha.

Durante a descida há sempre surpresas que não se esquecem. Outro solitário, mas alemão, preparado com mochila que enchia as costas até a meio da cabeça, saltava de pedra em pedra para alcançar o topo. “Se não conseguir chegar ao topo ou se ficar mau tempo vou acampar na montanha e ficar para amanhã”. Depois de uma afirmação destas senti-me mal preparado e com espírito de aventura pouco audaz. Outras foi aproveitar a neve.


Durante a descida ao enformar o diário de vida mental, para os próximos dias, conclui que restava procurar na ilha grampos com bicos para as botas que ajudassem a completar a pouca distância que faltava para o topo.

Assim foi.

Um dia depois e já com os grampos na mochila, ferramenta que faltava para escalar a montanha de gelo, faltava apenas que se reunissem as condições climatéricas adequadas, de vento e humidade para preparar nova subida. Consultados alguns sites meteorológicos, perspectivava-se que dois dias depois, depois de passar uma “frente” chuvosa, fosse possível subir com alguma visibilidade.

Para passar algum tempo, o Faial é sempre uma bela ilha para descobrir novos trilhos.