sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pico - 3ª Tentativa

03-Jan-10


De volta novamente ao Pico, para completar a tão desejada experiência de sentir o vento e a neve nesta esfinge do atlântico médio, o ponto mais alto de Portugal.



Já na subida a furna (ponto 1 do mapa) foi passada aos doze minutos, o marco branco da “curva” (ponto 2 do mapa) aos vinte minutos e a neve, com alguma densidade, apareceu aos quarenta e seis minutos. Um passo constante e um ritmo cardíaco na ordem das cento e sessenta e seis pulsações por minutos, marcaram a longa viagem durante todo o escalar das pedras vulcânicas até ao cume. Algumas fotos precederam o encaixe dos grampos nas botas que, aos cinquenta e quatro minutos, deram novo alento e ímpeto à marcha de subida.





Os marcos que identificam o trilho, suportavam blocos de gelo que iam aumentando ao longo da subida. A posição do gelo “colado” ao marco indicava a orientação do vento no período que choveu o granizo. Durante a subida o vento gelado que serpenteava a montanha tomava a temperatura da neve e tornava-se cada vez mais gelado. Já na cratera (ponto 4 do mapa), “entupida” com vários metros cúbicos de gelo, já nos dois mil e cem metros de altitude, a intensidade do vento e a fraca visibilidade, tornou o cenário temível.





No topo do “piquinho” as paredes quentes da fumarola do vulcão derretem todo o granizo que vai caindo ao longo dos dias. Nas rochas e na terra escura observam-se pingos de água que degelam e escorrem até ao próximo manto branco de gelo. Por detrás de uma pedra sem calor voltam a solidificar.

No topo a pequena cratera continua a fungar um pequeno vapor garantindo uma temperatura que afasta a neve e o gelo no interior de todo o seu perímetro. Um cenário verdadeiramente invulgar que esconde a força da natureza nas profundidades do Atlântico – a lava incandescente que borbulha há alguns milénios e aguarda o seu tempo para reaparecer.





Saciado pela invulgar paisagem e experiência vivida, resta descer, deslizar algumas vezes na neve e aguardar por outros dias que tenham melhor visibilidade para poder desfrutar da paisagem das esfingues do triângulo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Faial - Capelinhos

02-Jan-10

Faial – Capelinhos
PR1FAI - Capelo - Capelinhos
Ilha: Faial
Dificuldade: Médio
Extensão: 7 Km
Tempo: 1h30m

Mapa:
http://www.traisl-azores.com/

Um passeio ao longo da marina da Horta permitiu observar as obras do novo porto para o cais de cruzeiros. Uma paragem no Peters bar é sempre um espaço de referência para tomar uma bebida para aquecer o coração e preparar uma nova aventura.

Desta vez o percurso eleito foi o trilho “Capelo-Capelinhos”.

O início é deveras frustrante porque o trilho estende-se ao longo de alguns quilómetros de alcatrão e depois terra batida. No entanto, a chegada ao todo do monte “Cabeço da Fonte” animam qualquer viajante que tem por gosto observar as paisagens deslumbrantes e seculares. Por dentro das enormes urzes, acácias e outras espécies, foi cortado um trilho que conduz os viajantes ao longo de várias crateras e uma furna misteriosa - a Furna Ruim.



Cavidade estreita e profunda que, ao tentar espreitar-se para o interior, provoca e agita todos os sensores humanos que identificam o perigo. Na descida um caldeirão largo e verdejante completa a primeira parte do percurso.




O trilho termina no monte que rasgou, em 1959, as rochas vulcânicas da costa oeste do Faial e acrescentou mais de um quilómetro quadrado à área total da ilha com a erupção da lava que borbulhou das profundezas do atlântico.

Pico - 3ª tentaiva

03-Jan-10

Montanha do Pico, Ilha do Pico, Açores.

Pico - 2ª tentaiva

01-Jan-10

Pico – a montanha
Percurso pedestre não marcado: casa montanha – piquinho – casa montanha
Ilha: Pico
Dificuldade: difícil
Extensão: 7 Km
Desnível: 1110 m
Tempo: 3h00m

No primeiro dia do ano, às oito horas da manhã, o cenário encorajou e atiçou novamente de adrenalina o corpo do viajante, pois a mente já consciente e preparada para as dificuldades com suor e dor, para a viagem até ao ponto mais alto de Portugal.

Já equipado antes da chegada à casa montanha, pelas nove horas, o cenário envolvente não foi muito animador, porque um manto de nevoeiro e vento moderado eram mau presságio. No entanto, lá foram as pernas da mente teimosa tentar alcançar o desafio. O caminho repetiu-se, mas desta vez, com chuva desde o início e nevoeiro.

As fortes chuvas da noite anterior subtraíram centenas de metros de neve à montanha.
O que no dia anterior era visível junto à furna, neste dia, só foi possível verificar, vinte e cinco minutos mais à frente, quiçá meio quilometro acima, já percorrido um tempo total de trinta e nove minutos.


Na subida, a chuva fustigou com mais força duas ou três vezes o viajante, psicologicamente resistente a qualquer intempérie possível. Mas a precaução ditava que fosse necessário ir olhando para “baixo” de forma a acompanhar a evolução do nevoeiro e do vento”. Já com uma hora de viagem, a neve tinha estendido o seu manto e, já com o gelo, este prega inúmeras partidas às botas do viajante, quando não consegue quebra-lo para encontrar um ponto estável. Para evitar trambolhões destemidos, socorre-se do bastão com mais frequência à medida que progride no caminho do sopé da montanha. Catorze minutos depois o desnível da inclinação diminui, já próximo dos dois mil e cem metros, as marcas do caminho viram um pouco para a direita e dão “sinal” de que a cratera está próxima.

Mas nem tudo é perfeito.

Com redução do desnível da subida, a paisagem torna-se totalmente branca, muito lisa mas também excessivamente perigosa. As botas deixaram de conseguir estalar a neve que se transformou em gelo com espessura grossa, muito por força das fortes chuvadas caídas da noite anterior e, o bastão, também por vezes, tornou-se impotente para perfurar o manto gelado da montanha.

Sem grampos nas botas, com uma hora e quinze minutos de viagem, restou abortar a curta subida que restava até ao perímetro da enorme cratera da montanha.

Durante a descida há sempre surpresas que não se esquecem. Outro solitário, mas alemão, preparado com mochila que enchia as costas até a meio da cabeça, saltava de pedra em pedra para alcançar o topo. “Se não conseguir chegar ao topo ou se ficar mau tempo vou acampar na montanha e ficar para amanhã”. Depois de uma afirmação destas senti-me mal preparado e com espírito de aventura pouco audaz. Outras foi aproveitar a neve.


Durante a descida ao enformar o diário de vida mental, para os próximos dias, conclui que restava procurar na ilha grampos com bicos para as botas que ajudassem a completar a pouca distância que faltava para o topo.

Assim foi.

Um dia depois e já com os grampos na mochila, ferramenta que faltava para escalar a montanha de gelo, faltava apenas que se reunissem as condições climatéricas adequadas, de vento e humidade para preparar nova subida. Consultados alguns sites meteorológicos, perspectivava-se que dois dias depois, depois de passar uma “frente” chuvosa, fosse possível subir com alguma visibilidade.

Para passar algum tempo, o Faial é sempre uma bela ilha para descobrir novos trilhos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pico - 1ª Tentativa

31-Dez-09

Na manhã seguinte, enquanto o “triângulo das ilhas” flutuava a cortar as poucas ondas do canal, em direcção à vila de Velas, foi possível vislumbrar a sudoeste a enorme montanha da ilha do Pico coberta de neve até meia encosta. A primeira sensação foi de que estava a perder a melhor oportunidade em poder, mais uma vez, alcançar o ponto mais alto de Portugal, mas agora com neve.

Chegado à Madalena, no auge da hora do almoço com num cenário transparente, e a montanha branca a Sul a chamar o viajante, incentivou a uma investida imediata, mesmo sabendo que as piores previsões meteorológicas previam a aproximação de alguma intempérie com chuva e o vento a rodar para oeste, no final do dia e noite.
Na casa montanha, a mil e duzentos e quarenta metros de altitude o cenário mantinha-se, com vento muito fraco e total visibilidade que permitia ver todo o manto de neve da montanha vulcânica que está assente numa “base” com quase 5.000 m de altura, desde as profundezas do Atlântico.

Este cenário apelou a uma rápida troca de roupa, inserir na mochila o mínimo de material para agasalho do frio e da chuva e alguns reabastecimentos líquidos e sólidos para algum panorama menos bom. Pé ante pé, por entre o trilho já conhecido de outras vezes, foi possível fazer, em quinze minutos, percurso até à chegada ao primeiro ponto de referência, a furna. Neste ponto, já visível várias calotes de gelo, escondidas dos raios do sol, nos baixos declives das gretas construídos pela erosão.

Rumo ao topo, ainda junto à furna, o caminho curva noventa graus para sudoeste. Nesta viragem sentiu-se o crescer do vento, apesar de ainda soprar com baixa intensidade. No trilho e nas partes mais baixas tudo estava repleto com neve que ia crescendo para as laterais na medida em que se ia progredido em altitude. Também o vento e o nevoeiro acompanhavam este cenário que se tornava cada vez mais idílio e branco.

Já no segundo ponto de referência, num dos poucos marcos brancos que restam com um pequeno reflector, significa que o caminho roda, desta vez, noventa graus para Sul e começa o verdadeiro desafio com uma inclinação acentuada. Da casa montanha foram percorridos apenas mil metros dos três mil e quinhentos totais até ao topo, agora em trinta minutos.



Nesta fase, o vento soprava com rajadas geladas e fortes e o nevoeiro escondeu a vislumbrante vista sobre a furna, a vila da Madalena e a ilha da Horta.
Consciente de que a previsão meteorológica previa o crescer do mau tempo, para o final do dia e noite, restava apenas subir mais uns “degraus” para apreciar a neve envolvente.

Dez minutos depois, um pequeno deslizar na neve que escondia as rochas vulcânicas, ditou a linha final do percurso que se tornou extremamente perigoso por cada metro de desnível conquistado.
Um aventureiro audaz conciente das sua limitações nunca desiste de alcançar os objectivos que julga capaz.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

S. Jorge - Caldeira S. Cristo

30 - Dez - 09





Caldeira do Santo Cristo – Fajã dos Cubres
Ilha: São Jorge
Dificuldade: Fácil
Extensão: 10 Km
Tempo: 1h 45m





A Caldeira de S. Cristo, posicionada entre a fajã dos Tijolos e a fajã Redonda, quiçá o lugar mais emblemático da ilha, muito porque os difíceis acessos à pequena aldeia desincentivam a maioria da população sedentária, o que a torna algo misteriosa e, por outro lado, mais atractiva para os turistas dinâmicos e que procuram mais emoções associadas à prática regular de exercício físico.


Para alcançar o célebre e proibido prato de amêijoas da fajã, podem ser traçadas duas rotas distintas, mediante os caprichos dos aventureiros. A mais fácil é seguir de carro até à Fajã dos Cubres, estacionar junto às águas cristalinas do Atlântico e seguir viagem por um caminhos, com pouco mais de um metro e meio de largura, até à pequena aldeia. Os meios de transporte que os residentes da caldeira utilizam são motociclos de quatro rodas, porque estão dimensionados para a largura do caminho. O outro acesso, pelo carreiro pedestrianista, marcado ao logo de toda a descida que serpenteia algumas linhas de água, onde cintilam gomos do líquido das chuvas nas rochas vulcânicas, “ataca-se” pelo cume da planalto jorgense com início na estrada regional que une a vila da Calheta ao Topo.


Este passeio agradável, ainda permite a memorização de inúmeras fotos das verdejantes paisagens, durante aproximadamente uma hora, por ambos os acessos, até à aldeia construída nas margens da Caldeira de S. Cristo.


A placa de madeira que identifica e inicia o trilho da “caldeira de S. Cristo”, junto à estrada regional para o Topo, marca aproximadamente quatro quilómetros. Pouco mais de uma centena de metros, avista-se todo o vale curvilíneo e verdejante, utilizado pelos ancestrais povoadores, para conseguir alcançar a caldeira, outrora isolada do resto da ilha. Ao fundo o contraste entre o verde garrido da vegetação virgem, o azul marinho das águas cristalina do mar e, por vezes, o branco da espuma fofa produzida pelas ondulação no insistente bater das águas nas rochas pouco profundas, marcam uma vista de referência que enche a pupila de qualquer turista. Na descida ouve-se a água a jorrar nas rochas e nas pequenas cascatas da linha de água que é escondida por manto verdejante de selvagens arbustos predominantes nas encostas da ilha. De campo a campo encontram-se várias vacas que vivem uma vida em terras com sumptuosas paisagens e frescas verduras que alimentam o corpo bovino com comida natural e biológica. Na descensção quando o olhar roda para o percurso que vai ficando para trás, ficamos admirados com o desnível já percorrido, medido pelo crescer das montanhas do planalto desta esfinge do mar.



A proximidade ao mar é um forte indício de que a aldeia se aproxima. As primeiras casas vislumbram-se ao longe, agora, por entre as gotas da chuva forte que assola a costa norte tocada a vento frontal. A torre da igreja, terá sido benzida a 10 de Novembro de 1835, hoje aparentemente sem pastor, talvez porque as “ovelhas” são poucas, continua destacar-se no horizonte de qualquer um dos caminhos que dá acesso à caldeira. Um pequeno lago, a leste da aldeia, pode ser contornado pelo molhe de pedras construído para evitar os avanços constantes do mar, o que não evita o salpico das pequenas particular salgadas, rasgadas pelas pedras vulcânicas que travam as ondas atrevidas. Os pequenos carreiros que circundam as casas da aldeia transpiram de muito abandono e isolamento, fruto dos difíceis e limitados acessos à civilização insular. Porém as paupérrimas famílias resistentes esforçam-se por contornar o isolamento, ou por outro lado, aproveitam por viver, talvez na aldeia mais sossegada das esfinges do atlântico médio. Pois, isolamento, por estes lados, não significada impossibilidade de acompanhar alguns bons exemplos da sociedade evoluída e moderna.
Cinco baldes verdes, de meio metro de altura, permitem separar os resíduos produzidos pelos residentes ou pelos turistas “verdes”. Porém resta saber se a política dos três “rrr” é respeitada nestas bandas.

A Caldeira é o monumento natural mais apreciado e “vendido” nas revistas turísticas da região, no entanto, para outros, está envolvida num enorme fascínio irresistível para a prática de mergulho, como foi um local, e jorgense encontrado, na tarde do dia trinta, do último mês do ano de 2009, d.C. a flutuar com um fato de mergulho, óculos e tubo respirador no leito das águas da caldeira.

No estreito caminho em direcção à Fajã dos Cubres, fui ultrapassado por uma verde moto quatro e dois passageiros. A meio da viagem, um humilde jorgense, a contrato, escavava a estreita estrada para limpar as inúmeras e pouco profundas valetas que ajudam a escoar a água permitindo a conservação e a transitabilidade motora entre as fajãs. No prólogo da chegada à Fajã dos Cubres, no topo da rampa final para os veículos automóveis pesados, algumas centenas de quilos em materiais de construção, digo, telhas, blocos, entre outros, aguardam em fila a sua vez para serem transportados, nos pequenos atrelados das motas, até uma das duas casas em (re)construção no “Santo Cristo”.

Já no centro da aldeia dos Cubres, o único café estrategicamente implantado na beira da estrada principal, e única, e em frente à igreja cuja santa é uma imitação da existente no santuário de Lurdes – França, está aberto para receber qualquer “local” ou turista curioso.
Saciada a mente com as vistas que foram entranhadas nas duas “meninas-dos-olhos” e com a ligeira dureza e extensão do percurso restou regressar à civilização jorgense para desfrutar da gastronomia.