quinta-feira, 4 de março de 2010

Nevão - Ilha do Pico

Nevão que assolou a ilha da montanha em 27-Fev-2010.
Fotos e vídeo captadas por Rui Faria.







Vídeo por: Rui Faria

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

S. Jorge - Fajã João Dias

S. Jorge – Fajã João Dias
Dificuldade: Médio
Extensão: 2,4 Km
Tempo: 1h20m

S. Jorge é espaço inesgotável de lugares secretos a descobrir. Desta vez a escolha recaiu na Fajã de João Dias que pertence à freguesia dos Rosais, Concelho de Velas.


Um pequeno trajecto em viatura entre a cidade de Velas marcou o início da primeira viagem até ao limite da escarpa natural que se ergue no lado norte da ilha. Aqui inicia-se a segunda viagem, agora a pé, ao longo do estreito trajecto pedonal que serpenteia a encosta por entre a muita vegetação verdejante nos mais de 1200 metros de trilhos, integrados nos mais de 400 metros de desnível.

O trilho de fácil acesso só está disponível para as sapatilhas dos viajantes ou para os cascos dos vários cavalos utilizados no transporte das mercadorias entre o último acesso rodoviários e o coração da fajã. Na descida “todos os santos ajudam” a cumprir a distância em pouco mais de 30 minutos. Na volta, o problema visto do nível do mar, é colossal, muito por força da sensação de enorme desnível entre a fajã e o topo do monte, no entanto, com muita paciência consegue-se subir em cerca de 45 minutos.


A impressão colhida nos primeiros olhares para o fundo da escarpa, ainda do cume do monte, é de que se trata de uma fajã organizada e que não está ao abandono, pelo contrário. As inúmeras casas bem cuidadas e reconstruídas suscitam admiração aos viajantes sobre como foram transportados todos aqueles materiais. Claro …. os jumentos e cavalos são o melhor amigos dos veraneantes da Fajã.

Já próximo da Fajã os vários currais de vinha devidamente amanhados, as couves e alguns alhos plantados dão a entender que alguém habita isolado nesta pérola atlântica.
O septuagenário, António Fernando, a viver na Fajã, à mais de 43 anos sobrevive info-excluído da sociedade, muito por força da luta diária com a labuta do campo que o obriga a manter os campos devidamente preparados. Luta sem luz, telefone, televisão, rádios ... Guarda nas suas dispensas particulares, construídas na rocha ao longo de vários anos, os bens essenciais como a batata e outros, como os amendoins.


Nas muitas e pequenas casas construídas já se contam duas antenas parabólicas, claro que ligadas só nos fins-de-semana em que os jorgenses descem ao silêncio, onde apenas se ouve barulho proveniente do bater das ondas nas pedras que delineiam a fronteira entre o pedaço de terra e a imensidão do atlântico médio.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pico - 3ª Tentativa

03-Jan-10


De volta novamente ao Pico, para completar a tão desejada experiência de sentir o vento e a neve nesta esfinge do atlântico médio, o ponto mais alto de Portugal.



Já na subida a furna (ponto 1 do mapa) foi passada aos doze minutos, o marco branco da “curva” (ponto 2 do mapa) aos vinte minutos e a neve, com alguma densidade, apareceu aos quarenta e seis minutos. Um passo constante e um ritmo cardíaco na ordem das cento e sessenta e seis pulsações por minutos, marcaram a longa viagem durante todo o escalar das pedras vulcânicas até ao cume. Algumas fotos precederam o encaixe dos grampos nas botas que, aos cinquenta e quatro minutos, deram novo alento e ímpeto à marcha de subida.





Os marcos que identificam o trilho, suportavam blocos de gelo que iam aumentando ao longo da subida. A posição do gelo “colado” ao marco indicava a orientação do vento no período que choveu o granizo. Durante a subida o vento gelado que serpenteava a montanha tomava a temperatura da neve e tornava-se cada vez mais gelado. Já na cratera (ponto 4 do mapa), “entupida” com vários metros cúbicos de gelo, já nos dois mil e cem metros de altitude, a intensidade do vento e a fraca visibilidade, tornou o cenário temível.





No topo do “piquinho” as paredes quentes da fumarola do vulcão derretem todo o granizo que vai caindo ao longo dos dias. Nas rochas e na terra escura observam-se pingos de água que degelam e escorrem até ao próximo manto branco de gelo. Por detrás de uma pedra sem calor voltam a solidificar.

No topo a pequena cratera continua a fungar um pequeno vapor garantindo uma temperatura que afasta a neve e o gelo no interior de todo o seu perímetro. Um cenário verdadeiramente invulgar que esconde a força da natureza nas profundidades do Atlântico – a lava incandescente que borbulha há alguns milénios e aguarda o seu tempo para reaparecer.





Saciado pela invulgar paisagem e experiência vivida, resta descer, deslizar algumas vezes na neve e aguardar por outros dias que tenham melhor visibilidade para poder desfrutar da paisagem das esfingues do triângulo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Faial - Capelinhos

02-Jan-10

Faial – Capelinhos
PR1FAI - Capelo - Capelinhos
Ilha: Faial
Dificuldade: Médio
Extensão: 7 Km
Tempo: 1h30m

Mapa:
http://www.traisl-azores.com/

Um passeio ao longo da marina da Horta permitiu observar as obras do novo porto para o cais de cruzeiros. Uma paragem no Peters bar é sempre um espaço de referência para tomar uma bebida para aquecer o coração e preparar uma nova aventura.

Desta vez o percurso eleito foi o trilho “Capelo-Capelinhos”.

O início é deveras frustrante porque o trilho estende-se ao longo de alguns quilómetros de alcatrão e depois terra batida. No entanto, a chegada ao todo do monte “Cabeço da Fonte” animam qualquer viajante que tem por gosto observar as paisagens deslumbrantes e seculares. Por dentro das enormes urzes, acácias e outras espécies, foi cortado um trilho que conduz os viajantes ao longo de várias crateras e uma furna misteriosa - a Furna Ruim.



Cavidade estreita e profunda que, ao tentar espreitar-se para o interior, provoca e agita todos os sensores humanos que identificam o perigo. Na descida um caldeirão largo e verdejante completa a primeira parte do percurso.




O trilho termina no monte que rasgou, em 1959, as rochas vulcânicas da costa oeste do Faial e acrescentou mais de um quilómetro quadrado à área total da ilha com a erupção da lava que borbulhou das profundezas do atlântico.

Pico - 3ª tentaiva

03-Jan-10

Montanha do Pico, Ilha do Pico, Açores.

Pico - 2ª tentaiva

01-Jan-10

Pico – a montanha
Percurso pedestre não marcado: casa montanha – piquinho – casa montanha
Ilha: Pico
Dificuldade: difícil
Extensão: 7 Km
Desnível: 1110 m
Tempo: 3h00m

No primeiro dia do ano, às oito horas da manhã, o cenário encorajou e atiçou novamente de adrenalina o corpo do viajante, pois a mente já consciente e preparada para as dificuldades com suor e dor, para a viagem até ao ponto mais alto de Portugal.

Já equipado antes da chegada à casa montanha, pelas nove horas, o cenário envolvente não foi muito animador, porque um manto de nevoeiro e vento moderado eram mau presságio. No entanto, lá foram as pernas da mente teimosa tentar alcançar o desafio. O caminho repetiu-se, mas desta vez, com chuva desde o início e nevoeiro.

As fortes chuvas da noite anterior subtraíram centenas de metros de neve à montanha.
O que no dia anterior era visível junto à furna, neste dia, só foi possível verificar, vinte e cinco minutos mais à frente, quiçá meio quilometro acima, já percorrido um tempo total de trinta e nove minutos.


Na subida, a chuva fustigou com mais força duas ou três vezes o viajante, psicologicamente resistente a qualquer intempérie possível. Mas a precaução ditava que fosse necessário ir olhando para “baixo” de forma a acompanhar a evolução do nevoeiro e do vento”. Já com uma hora de viagem, a neve tinha estendido o seu manto e, já com o gelo, este prega inúmeras partidas às botas do viajante, quando não consegue quebra-lo para encontrar um ponto estável. Para evitar trambolhões destemidos, socorre-se do bastão com mais frequência à medida que progride no caminho do sopé da montanha. Catorze minutos depois o desnível da inclinação diminui, já próximo dos dois mil e cem metros, as marcas do caminho viram um pouco para a direita e dão “sinal” de que a cratera está próxima.

Mas nem tudo é perfeito.

Com redução do desnível da subida, a paisagem torna-se totalmente branca, muito lisa mas também excessivamente perigosa. As botas deixaram de conseguir estalar a neve que se transformou em gelo com espessura grossa, muito por força das fortes chuvadas caídas da noite anterior e, o bastão, também por vezes, tornou-se impotente para perfurar o manto gelado da montanha.

Sem grampos nas botas, com uma hora e quinze minutos de viagem, restou abortar a curta subida que restava até ao perímetro da enorme cratera da montanha.

Durante a descida há sempre surpresas que não se esquecem. Outro solitário, mas alemão, preparado com mochila que enchia as costas até a meio da cabeça, saltava de pedra em pedra para alcançar o topo. “Se não conseguir chegar ao topo ou se ficar mau tempo vou acampar na montanha e ficar para amanhã”. Depois de uma afirmação destas senti-me mal preparado e com espírito de aventura pouco audaz. Outras foi aproveitar a neve.


Durante a descida ao enformar o diário de vida mental, para os próximos dias, conclui que restava procurar na ilha grampos com bicos para as botas que ajudassem a completar a pouca distância que faltava para o topo.

Assim foi.

Um dia depois e já com os grampos na mochila, ferramenta que faltava para escalar a montanha de gelo, faltava apenas que se reunissem as condições climatéricas adequadas, de vento e humidade para preparar nova subida. Consultados alguns sites meteorológicos, perspectivava-se que dois dias depois, depois de passar uma “frente” chuvosa, fosse possível subir com alguma visibilidade.

Para passar algum tempo, o Faial é sempre uma bela ilha para descobrir novos trilhos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pico - 1ª Tentativa

31-Dez-09

Na manhã seguinte, enquanto o “triângulo das ilhas” flutuava a cortar as poucas ondas do canal, em direcção à vila de Velas, foi possível vislumbrar a sudoeste a enorme montanha da ilha do Pico coberta de neve até meia encosta. A primeira sensação foi de que estava a perder a melhor oportunidade em poder, mais uma vez, alcançar o ponto mais alto de Portugal, mas agora com neve.

Chegado à Madalena, no auge da hora do almoço com num cenário transparente, e a montanha branca a Sul a chamar o viajante, incentivou a uma investida imediata, mesmo sabendo que as piores previsões meteorológicas previam a aproximação de alguma intempérie com chuva e o vento a rodar para oeste, no final do dia e noite.
Na casa montanha, a mil e duzentos e quarenta metros de altitude o cenário mantinha-se, com vento muito fraco e total visibilidade que permitia ver todo o manto de neve da montanha vulcânica que está assente numa “base” com quase 5.000 m de altura, desde as profundezas do Atlântico.

Este cenário apelou a uma rápida troca de roupa, inserir na mochila o mínimo de material para agasalho do frio e da chuva e alguns reabastecimentos líquidos e sólidos para algum panorama menos bom. Pé ante pé, por entre o trilho já conhecido de outras vezes, foi possível fazer, em quinze minutos, percurso até à chegada ao primeiro ponto de referência, a furna. Neste ponto, já visível várias calotes de gelo, escondidas dos raios do sol, nos baixos declives das gretas construídos pela erosão.

Rumo ao topo, ainda junto à furna, o caminho curva noventa graus para sudoeste. Nesta viragem sentiu-se o crescer do vento, apesar de ainda soprar com baixa intensidade. No trilho e nas partes mais baixas tudo estava repleto com neve que ia crescendo para as laterais na medida em que se ia progredido em altitude. Também o vento e o nevoeiro acompanhavam este cenário que se tornava cada vez mais idílio e branco.

Já no segundo ponto de referência, num dos poucos marcos brancos que restam com um pequeno reflector, significa que o caminho roda, desta vez, noventa graus para Sul e começa o verdadeiro desafio com uma inclinação acentuada. Da casa montanha foram percorridos apenas mil metros dos três mil e quinhentos totais até ao topo, agora em trinta minutos.



Nesta fase, o vento soprava com rajadas geladas e fortes e o nevoeiro escondeu a vislumbrante vista sobre a furna, a vila da Madalena e a ilha da Horta.
Consciente de que a previsão meteorológica previa o crescer do mau tempo, para o final do dia e noite, restava apenas subir mais uns “degraus” para apreciar a neve envolvente.

Dez minutos depois, um pequeno deslizar na neve que escondia as rochas vulcânicas, ditou a linha final do percurso que se tornou extremamente perigoso por cada metro de desnível conquistado.
Um aventureiro audaz conciente das sua limitações nunca desiste de alcançar os objectivos que julga capaz.